Na televisão, uma repórter entusiasmada a entrevistar o Artista. Como se sente? Está nervoso? Pavilhão Atlântico cheio, mais de 17 mil pessoas a assistir! E o Artista, sereno, diz apenas para as pessoas verem os outros espectáculos da digressão. E o repórter explica, a RTP está a seguir a passo e passo o concerto de Tony Carreira no Pavilhão Atlântico! Um exclusivo! Mas não é só. Tony Carreira aparece como convidado em Talkshows, vai a galas, mostra a casa nas capas das revistas. E há o filho, o grande Mickael, cópia do pai, mas em foleiro-jovem.
E Tony Carreira continua a explicar: são mais de 250 técnicos, no total, para as luzes, o som, mais uma quantidade enorme de instrumentistas para tocarem aquelas pérolas.
Eu fico embasbacado. É o sinal típico do músico parolo. Quanto mais instrumentistas em palco, maior sinal de "qualidade". Se houver 10 meninas a cantar coros, mais 5 macacos na percussão, mais não sei quantos órgãos e guitarristas solo, temos o que o povo gosta, o espectáculo total. Faz-me lembrar uma crítica muito antiga que um jornal fez a um disco de Elton John, que tinha uma capa muito rococó. Chamou-lhe "cocó de luxo". Parece-me um termo bem aplicado a toda esta parafernália de Tony Carreira. Muitos rodriguinhos, muito spray para tentar desviar o mau cheiro.
Este é o tipo de artista que mais me irrita. O pimba com ambições qualitativas. Pelo menos, o Toy é o Toy, o Graciano Saga, é o Graciano Chaga. Mas o Tony Carreira não. O Tony Carreira é o nosso "cantor romântico", com muitos técnicos e muitas luzes.
Não me irritaria se não lhe dessem importância. Agora, fazerem directos e transmissões na RTP, a Estação Público, é que já me enoja. E não me falem do serviço público, de dar ao público o que este quer. Serviço público deveria implicar educação. Mas temos os artistas que merecemos.
Há 15 anos havia programas de música, como o Pop Off, que divulgava novos artistas portugueses, e até os ajudava a criar vídeos, com baixo orçamento. Até O Euroritmias convidava artistas como os Ocaso Épico.
Agora, temos Academias de Estrelas, onde macaquinhos de imitação vão fazer provas de esforço para poderem, um dia, alcançar o sonho de participarem no Festival da Canção.
Temos o Tony Carreira elevado a estatuto de ícone.
Não vale a pena estar a gastar mais linhas com isto. Divirtam-se.
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3 comentários:
Bom...se formos a ver bem, o festival da canção também já não tem grande qualidade...
Ainda há pouco tempo tive esta conversa.
Antigamente, as músicas ainda tinham algum valor, ficavam no ouvido, tendo algumas delas perdurado no tempo.
Agora nem no ouvido ficam (felizmente, porque sempre é cada uma...)!
Boa reflexão, Mister Odradek!
Mas, agora, também, há a situação oposta, muito pós-moderna, do artista que faz tudo: Canta, toca guitarra, bate palminhas e com o pé, faz o ritmo da bateria!
E se pululam por ai!
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