quarta-feira, 29 de abril de 2009

a pandemania de não chamar os porcos pelos seus nomes

Está na moda a gripe suína, a tal variante do vírus H1N1. Uma nova variante do vírus pode ser transmitida entre humanos, e é considerada epidémica, no México. O governo mexicano anunciou existirem cerca de 150 mortes confirmadas causadas pelo H1N1 e mais de 1600 casos suspeitos, o que levou a Organização Mundial de Saúde a declarar que a doença é uma "emergência na saúde pública internacional". À hora do fecho deste post tornou-se uma Pandemia.
Todavia, não há contaminação pelo consumo de carne ou produtos suínos, uma vez que, se a carne for cozinhada a 70 graus Celsius, provoca a destruição do vírus da gripe suína.
Os telejornais portugueses falaram, há uns dias, com vários interessados na matéria, incluindo, obviamente, os produtores e as associações de produtores de porcos.
Um dos produtores de porcos disse, indignado, à televisão: “parece incrível, estarem a formular estas falsas especulações em torno da carne de porco, que é perfeitamente segura. De resto, nem sei porque é que esta doença se chama gripe suína, é só para causar alarmismos. Cá para mim, a doença deveria chamar-se "Gripe Mexicana.”

No dia seguinte, o Jornal Público tomou o partido dos pobres porcos difamados, e tratou de repôr justiça no nome da doença, passando a cognominá-la "Gripe Mexicana".
Acho bem. Além de porcos, já os chamavam causadores de pandemias. Antes os mexicanos.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Os Dias do Namorado


O namorado morto
É o namorado perfeito.
Acreditas que continuará a olhar por ti,
Espreitando sorrateiramente lá do além
Sabias sempre onde se encontrava
E que te escutava
Quando lá ias meter uma flor.
O sorriso eternizou-se naquela fotografia que emolduraste,
E na hora da verdade
No momento da extrema-unção
Declaraste-lhe a tua paixão
E juraste eterna fidelidade
Ao teu amante perpetuamente jovem, a imagem ideal.
Não se deturpa, não se gasta, nem se transforma em sapo.
Mesmo quando estava lá debaixo da terra
Não deixava de vir à tona.
Atormentando-me, para onde quer que eu fosse,
Alma penada gentil.
Por muito ridículo que possa parecer, dele sinto ciúmes.
Principalmente, desde que o desenterraste
E o trouxeste numa mala
Que depositaste no meio da sala
Mesmo em frente à televisão.
por isso, querida, larga-o, e pára de brincar
vamos acabar de jantar,
Até porque já estou a ficar maldisposto
com o teu namorado decomposto
que me está a tapar o ângulo de visão.





terça-feira, 21 de abril de 2009

Obituários Anunciados

Há uns meses, andava a ler um livro do Harold Pinter, quando soube da sua morte.
Ontem, continuei a ler uma Antologia de contos do Ballard, sem fazer a mínima ideia de que ele morrera de véspera.
Preparo-me agora, finalmente, para ler alguma coisa da Margarida Rebelo Pinto.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Conselhos a dar a um escritor consagrado quando tem de dar conselhos a um jovem escritor iniciado:

1-Se o jovem escritor lhe tiver enviado (por carta, ou por mail) algum manuscrito, para que lhe dê sugestões, diga-lhe que o vai ler com cuidado, e depois dará uma opinião, na altura devida.
2- Demore sempre alguns meses a responder. Assim, pode ganhar tempo, enquanto pensa numa resposta para dar ao jovem escritor, e dá sempre a impressão de viver muito ocupado, e de estar a debruçar-se com atenção nos textos do jovem escritor.
3- Salvo raras excepções, NUNCA leia o texto que lhe foi entregue. Não há qualquer vantagem nisso. Se o jovem escritor for medíocre, perderia tempo a ler inutilidades. Se o jovem escritor for talentoso, só serve para ficar deprimido com a qualidade dos escritos ou, então, para ficar preocupado com a futura concorrência, que se adivinha.
4- Passado uns meses, comece a responder às chamadas do jovem escritor que, entretanto, já está ansioso para ouvir uma resposta. Diga-lhe que lhe quer falar um dia.
5- Acabe por lhe responder, de preferência, por carta, ou por mail (mas nunca na presença física do jovem escritor). Assim, controla o tempo da conversa e responde apenas ao que quer.
6- Durante a conversa, seja vago: nunca faça alusões específicas aos textos (uma vez que nem sequer os leu). Diga que os leu imediatamente depois de lhe terem sido entregues e que agora, passados estes meses, não os tem bem presentes na memória.
7- Não seja nem demasiado crítico nem demasiado benevolente. Diga que o jovem escritor tem talento, mas precisa de o trabalhar.
8- Se o jovem escritor lhe pedir sugestões, responda-lhe que não as vai dar, pois estaria a intrometer-se no caminho que o jovem escritor tem de trilhar. Diga-lhe apenas que “só ele é que sabe o que deve fazer”.
9- Incentive-o a continuar a escrever. Se o jovem escritor for fraco, nunca aparecerá nas notícias. Se for bom, pode sempre juntar-se aos seus apoiantes, no futuro, e dizer que sempre acreditou no seu talento.

10- Este é o mais importante. Mas não o vou revelar. A profissão de escritor é a mais solitária deste mundo. Caberá ao escritor consagrado trilhar o seu caminho, para chegar à revelação deste conselho.

domingo, 12 de abril de 2009

quinta-feira, 9 de abril de 2009

As Poéticas do Rock

Agora que já acabou o Colóquio “Poéticas do Rock em Portugal” (a programação está neste blog: http://poeticasdorock.blogspot.com), vou tecer algumas breves, e simples considerações pessoais:
1- A adesão do público não foi espectacular. É certo que os horários não eram os mais indicados, e estamos em período de Páscoa (por isso, os jovens estarão, certamente, em casa, reflectindo sobre o sacrifício de Jesus Cristo). De qualquer forma, contava que esses mesmos jovens, ou o pessoal entusiasta, que esgota, com antecedência, todas as sessões do Doc Lisboa ou do Indie Lisboa comparecesse um pouco mais.
2- Por falar em público, vou falar um pouco mais deste, mas do Público com P grande, aquele que tem um suplemento chamado Ipsílon, e que não se deu ao trabalho de fazer a mais pequena referência a este evento, nas páginas desse pasquim cultural. É sempre preferível fazer exclusivos dos concertos em Londres das novas cantoras promessa da cena folk-rock internacional.
3- Por falar em líricas pop-rock, falemos dos Artistas Nacionais. Como se pode ler na programação, para o dia 7 de Abril, foram convidados, para a mesa redonda, 4 músicos. Apareceram dois: JP Simões e Fernando Ribeiro (que falaram bastante bem). No dia seguinte, apareceu mais gente. Falando apenas nos músicos, Manuel João Vieira chegou a 10 minutos do fim, e estava lá Tiago Guillul.
4- A maior parte da assistência limitava-se a aparecer apenas para os debates entre músicos, na mesa redonda. A chegada dos fãs de Moonspell, com as suas botifarras barulhentas, fazia-se ouvir à distância.
5- Mário Jorge Torres (curiosamente,jornalista do Público), foi uma péssima escolha para moderador.
6- Tiago Guillul terá resumido o espírito com que a malta em geral (público, Públicos e afins, músicos e artistas) encara a lírica do rock em Portugal: será, segundo palavras que este músico disse (mais coisa, menos coisa), o mais anti-rock possível estar a discutir líricas rock em Universidades. Por isso, a maior parte dos músicos convidados (aqueles que se abstiveram de aparecer), teriam tomado a melhor decisão possível. Para quê estar a construir teorias à volta da música (incluindo aquelas teorias que não consideram as líricas rock uma arte “menor”) quando, no fim de contas, “It’s Only Rock and Roll”?
7- Apesar de tudo, um balanço positivo (da parte de um músico praticante de vez em quando, não profissional, e que gosta de escrever umas coisas e de gostar de líricas rock).