terça-feira, 13 de setembro de 2011

Para todos um Olá pouco gelado

No novo anúncio aos gelados Olá (vá lá, não o chamemos "novo", porque já tem uns dois meses),a cantora Márcia diz-nos naquele seu tom pachorrento e intimista "quando o calor chegar vais poder partilhar Olá Olá...um gelado pra ti, um gelado pra mim Olá Olá...).
A acompanhar a música, vemos imagens da estrela televisiva Rita Pereira, que come um gelado, mas guarda o pau e começa a apontá-lo para todos os lados. Num toque de magia, que se deve de certeza ao super pau do gelado, toda a gente começa a rir-se, surge uma grande animação no autocarro em hora de ponta e todos ficam felizes e eufóricos. Eu digo que a transformação se deve de certeza às capacidades mágicas do pau do gelado, qual varinha de bruxa boazona, pois tanto regabofe não será dedicado à cantora Márcia, pois ela continua, no seu tom lânguido e preguiçoso a dizer "um gelado pra ti um gelado pra mim) como se estivesse deitada no sofá, a dizer "aaaahhhh....vê-se mesmo que é segunda feira, que preguiça!
A Márcia faz-me lembrar aquelas bandas que tocam versões em bossa nova de músicas conhecidas e que pululam muito nos bares lounge com pufs e umas bebidas exóticas e cores esquisitas. Ela podia estar a cantar "i wanna be in anarchy" ou "too drunk to fuck" ou "London's burning", que faria sempre tudo no mesmo estilo intimista e sussurado.
Ainda bem que não a contrataram para vender os gelados na praia. Se a ouvissem a dizer "Olá fresquinho, há fruta ou chocolate" naquela voz de segunda feira chuvosa, ainda a prendiam, julgando que estava a vender gelados com substâncias dopantes ou alucinogéneas.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Chamada telefónica, feita num domingo à tarde

- Boa tarde, chamo-me António Martinho, e estou a ligar da parte do Barclays Bank. Para sua segurança, esta chamada está a ser gravada. Estou a falar com Rui Santos?
- Hum...bem...nem por isso...qual é o assunto?
- Estamos a telefonar porque o senhor Rui Santos possui uma conta, no Barclays Bank, com um valor a descoberto, que ascende aos 40 euros.
- Que chatice...mas olhe que não deve ser fácil falar com o Rui Santos, neste momento...
- É urgente, e fique a saber que os nossos serviços funcionam todos os dias, das 8 da manhã, até às 10 da noite. Se o senhor Rui Santos não se encontrar em casa, ele deverá ligar-nos, quanto antes...
- Mas o Rui Santos encontra-se em casa...
- Então, queira, por favor, chamá-lo ao telefone. Este assunto é da máxima importância, e interesse, para o senhor Rui Santos...
- Mas não sei se ele pode atender...
- É urgente, caro...hum...desculpe, com quem tenho o privilégio de falar? O senhor é familiar do senhor Rui Santos? Amigo? Qual é o vosso grau de parentesco e/ou grau de relacionamento pessoal?
- Caro António Marinho...
- Martinho...
- Martinho. Desculpe. Caro amigo, na verdade, conheci o Rui Santos hoje mesmo...
- Ah, um conhecimento recente.
- Muito recente. Na verdade, conheci-o há cerca de meia hora...
- Meia hora. Muito bem. Caro amigo, poderia chamar o senhor Rui Santos, e explicar-lhe...
- Como já lhe disse, o Rui Santos está indisponível...
- Mas por muito tempo? O senhor disse-me que ele estava em casa...
- Sim...
- Está ao pé de si?
- Está...
- Está a ouvir a conversa?
- Hum...nem por isso...
- Então, porquê?
- Olhe, vou-lhe explicar a situação...ora bem...já ouviu falar no "Monstro de Carnaxide"?
- Claro, tem aparecido nos noticiários, ainda não foi apanhado, e desconhece-se a sua identidade...
- Muito bem! Caro António Martinho, o senhor tem o privilégio de estar a falar, neste momento, com o "Monstro de Carnaxide"?
- Isto é alguma piada?
- Claro que não! Eu infiltro-me nas casas das pessoas, por meios que não lhe revelarei. Depois, assalto as casas, e mato os proprietários...
- Quer dizer que...
- Quer dizer que eu me infiltrei na casa do senhor Rui Santos, e que o matei à bastonada, após 10 minutos de intenso sofrimento...
- Que horror, isso é terrível....
- Terrível...
- O senhor Rui Santos....tinha apenas 38 anos...com uma mulher com 35 anos, que será a herdeira dos bens, juntamente com o filho, o pequeno Daniel, que tem 5 anos...
- Não necessariamente...
- Como assim?
- Eu penso que a mulher do senhor Rui Santos não deve ficar viúva por muito tempo?
- Não entendo?
- Caro António...posso tratá-lo por António?
- Sim...pois claro...
- Já ouviu falar em algumas experiências que se fizeram, nomeadamente, durante a Revolução Francesa, e nas quais se tentou perceber se as pessoas ainda se poderiam manter vivas depois de lhes cortarem a cabeça?
- Não...
- Há o caso, até, da Charlotte Corday, que, como deve saber, assassinou o Marat e que, por sua vez, foi guilhotinada...diz-se que, depois de a guilhotinarem, um qualquer energúmeno tê-la-á esbofeteado. Esbofeteou a cabeça dela, como é óbvio. Ora, diz-se que a cabeça da Charlotte Corday corou de indignação, vários segundos depois de ter sido separada do corpo...
- Desconhecia a história. Mas o que é que isto tem a ver com...
- Confesso-lhe que sou um pouco céptico, relativamente a estes assuntos. De qualquer forma, nunca nego, à partida, ciências que desconheço. Como tal, tentei fazer esta experiência, após ter cortado a cabeça à senhora Beatriz Santos, esposa do senhor Rui Santos...
- O que é que o senhor me está a querer dizer??
- Quero dizer-lhe que, a menos que algum juiz conceda à senhora Beatriz Santos o estatuto de "viúva", mesmo que esta não tenha cabeça, poderemos excluí-la da lista de sucessores do senhor Rui Santos...
- Isso é uma infâmia!! Uma barbaridade!
- Seja...
- O que vale é que todos os bens desta pobre família podem passar para o desgraçado filho, um órfão de cinco anos...
- Mas assim, o Barclays Bank deixará de poder cobrar a dívida...
- Não interessa! O pobre órfão em primeiro lugar!
- Ah é? Já agora, conto-lhe uma coisa...sabia que o senhor Rui Santos me deu os códigos de todas as suas contas bancárias? Parece que ele tem bastante dinheiro noutros bancos, como o BCP, ou a CGD...eu poderia fazer-lhes uma transferência, do valor que ele tem em dívida, mas visto que o Barclays Bank não tem interesse em...
- Caro amigo! Vamos com calma! Olhe, vamos fazer uma coisa...uma vez que eu não consigo falar com o senhor Rui Santos, poderia fazer-nos a transferência do valor em falta...
- Mas já lhe expliquei que o Rui Santos foi morto, e...
- Meu amigo, não nos interessa o que os nossos clientes fazem nas horas vagas! Façamos o seguinte: transfira os valores em falta, e esquecemos esta conversa. Mais: para sua segurança, eu apagarei os registos desta chamada telefónica, amigo "Monstro de Carnide"...
- Carnaxide...
- Amigo "Monstro de Carnaxide". Ora, queira apontar as nossas referências Multibanco...

terça-feira, 13 de abril de 2010

Os meus passatempos

Sou uma criatura simples, que se diverte com pequenas coisas, sem importância. Os gatos, por exemplo, correm desvairados atrás de um insignificante novelo de lã. Eu não sou como eles, não me interesso por novelos de lã, e gosto, ainda menos, de correr. Mas consigo entreter-me com coisas igualmente triviais. Sou, afinal, uma criatura simples.
Hoje, por exemplo, andava pela rua, nem nada para fazer. O dia estava feio, não dava para procurar raios de sol, por entre as frinchas das suas portas, e já não me restava milho, para dar aos pombos.
No momento em que me preparava para andar ao pé-cochinho, ou para voar, de mansinho, por cima de algumas poças, que se começavam a formar, depois dos aguaceiros do início da tarde, tocou-me o telefone.
Olhei, e vi que se tratava de um número desconhecido.
Fiquei satisfeito, e com curiosidade. De quem se trataria?
Atendi.
"Estou a falar com o Doutor Francisco Gomes?", perguntou um senhor, do outro lado da linha.
O homem tinha razão. Eu chamo-me, de facto, Francisco Gomes. É natural. Afinal, estavam a tentar ligar para o meu número. Mas resolvi prolongar a conversa, e respondi:
"Quem é que está a falar?"
O homem prosseguiu a sua conversa:
"Daqui fala do Barclays Bank. Esta conversa está a ser gravada, para sua própria segurança".
Oh!! A excitação! Uma conversa gravada! E para minha segurança!
Resolvi aproveitar tamanha honra, e tentar prolongar o diálogo:
"Mas porque é que está a telefonar?"
O homem do Barclays prosseguiu:
"Estou a telefonar porque o Doutor Francisco Gomes possui uma conta, com um valor de 6 euros, a descoberto, Gostaríamos de saber quando é que o Doutor Francisco Gomes pretende resolver a situação. "
Oh! Um benfeitor, preocupado com a minha situação financeira. Fiquei comovido, mas achei, por bem, não preocupar o meu novo amigo, uma vez que eu não tinha dinheiro para pagar a minha avultada dívida de 6 euros. Por isso, resolvi "chutar para canto", como se diz em gíria futebolística:
"Mas o senhor não está a telefonar para o Doutor Francisco Gomes"
O homem do Barclays pareceu ficar verdadeiramente surpreendido:
"Como? Mas este não é o 968920304, etc....?"
"É, sim senhor!", respondi-lhe.
"Então, este é o número do Doutor Francisco Gomes! Só pode ser ele, até porque sabemos que ele esta em Portugal, porque sabemos que ele fez um levantamento, por multibanco, há 3 horas atrás, no Largo dos Telheirinhos, e sabemos que ele foi jantar, ontem, à Tasca da Assunção, e comeu peixe grelhado!".
Mantive-me imperturbável. A partir daqui, descreverei o diálogo, sem interrupções.
"Tudo isso pode ser verdade, mas eu não sou o Doutor Francisco Gomes".
"Então estou a falar com quem?"
"Com o Donald"
"Quem?"
"O Donald. O Pato Donald"
"Que disparate vem a ser este?"
"Não é disparate nenhum. Sou o Pato Donald"
"Não entendo, caro Doutor Francisco..."
"Oiça, amigo, já disse que não me chamo Francisco, nem sou Doutor. Eu sou o Pato. Donald".
"Isso é uma parvoíce. Oiça, a chamada está a ser...."
"Quac"
"O quê?"
"Quac"
"Não entendo..."
"Quac. Está a ver?"
"Estou a ver o quê?"
"Eu disse Quac. Sou um pato. E conhece muitos patos que falem?"
"Bem...não..."
"Eu também não. Um dos únicos patos conhecidos, que falam, é o Pato Donald. Por isso, sou o Pato Donald".
"Isso é um absurdo..."
"Porquê?"
"O Pato Donald não existe..."
"Como é que não existe? Nunca viu imagens dele? Vestido de marinheiro, com um chapéu, e..."
"Sim, eu sei, mas ele apenas existe em cinema, em desenhos animados"
"Mentira. O senhor nunca foi à Eurodisney?"
"Por acaso já fui, e...."
"E não viu lá o Pato Donald, a acenar às pessoas, e a dar rebuçados às crianças?"
"Sim..."
"Era eu!"
"Isso é idiota! Tratava-se de uma pessoa vestida de Pato Donald..."
"idiota é o que o senhor está a dizer! Quem é que, no seu perfeito juízo, se veste de pato?"
"Ninguém..."
"Aí está! Ninguém! Ninguém se veste de pato, porque isso vai contra o senso comum, e as regras de bom senso e de etiqueta da nossa sociedade! Como tal, existe um Pato Donald, de carne e osso!"
"Seja...seja....mas isso não quer dizer que eu esteja a falar com o Pato Donald".
"Aí, voltamos à primeira parte da conversa. O senhor já reparou que eu faço Quac!"
"Hum...sim...."
"ou seja, sou um pato"
"pois..."
"Além disso, eu falo, pois estou a conversar com o senhor"
"certo...."
"conhece outros patos que falem?"
"sei lá....o Huguinho, o Zezinho e o Luisinho?"
"Mas esses são crianças....parece-lhe que eu tenho voz de criança?"
"Não...."
"Então sou adulto...sou o Pato Donald...."
"Seja como for....eu queria falar com o Doutor Francisco Gomes, e...."
"Pois, mas daqui não fala o Doutor Francisco Gomes...."
"Não?"
"Caro senhor do Barclays, tem aí a foto do Doutor Francisco Gomes?"
"Tenho..."
"E a cara dele, assemelha-se, de algum modo, à de um Pato?"
"Não...."
"Então o Doutor Francisco não é um Pato e, como tal, não está a falar com ele...."
"bem....sabe a que horas é que posso contactar o Doutor Francisco Gomes?"
"Não sei...eu sou o Pato Donald, não sou secretário, ou telefonista"
"bem, desculpe a maçada, então...tenha uma boa tarde"
"olhe, oiça..."
"sim?"
"eu tenho um tio muito rico. Acha que ele pode abrir uma conta no Barclays?"
"Com certeza!!! Qual é o nome do seu tio? Diga-me tudo, senhor pato! que digo? Doutor Pato Donald!! Qual é mesmo o nome do seu tio?

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Os meus projectos

Como o tempo voa! Vejo, agora, que não escrevo nada aqui desde a década passada.
Prometo que colocarei, pelo menos, mais um texto, durante esta década.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Não seremos todos andaimes? E os Deuses apoiam-se-nos em cima, enquanto trabalham na construção de novos andaimes, e mandam piropos ao Universo que passa.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Os aforismos que eu vos deixo

Por natureza, eu regular-me-ia pela lei do menor esforço. O problema é que sou demasiado anárquico para me reger por leis (e sou demasiado indolente para me dar conta da sua própria existência) e, mesmo que estivesse predisposto a tomar conhecimento de uma lei, e ter a disponibilidade de a acatar, dar-me-ia demasiado esforço fazê-lo.
Estaria, no fundo, a submeter-me ao esforço de uma lei menor.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Amparem-me a queda, raios,
Que eu corro riscos,
Ao tentar fugir do meu quarto,
Tornado minguante,
a cada compasso dado.
Salto para a rua,
e subo ao telhado
da face oculta da lua.
Ilumino-me com os seus ténues tons de sépia,
Que se tornam crescentes,
Talvez para, de forma inconsciente,
E até um pouco contida
Fazerem companhia à ursa, a menor,
Que se tornou ultra violetamente colorida.